quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desculpe, senhora

Desculpe, senhora, se pareço triste, mas é que meu nego morreu. Vivemos juntos por mais de 14 anos, dividindo a cama e as contas e agora estarei sozinha.
Desculpe se me atrasei, chove por toda parte, a descida da serra está um perigo, além disso meu bem morreu; aqui está seu pão e seu leite.
Sinto uma falta custosa, parece que estou com fome, dói-me o estômago, ele, ontem à noite, não telefonou. Depois ligaram do hospital. Passei a noite chorando, veja meus olhos inchados, veja meu coração inflamado, o coração dele parou.
Os pimentões não estão vingando, apodrecem ainda novos e caem no chão de lama. Tenho lama nos sapatos, minha alma não vingará sozinha, veja como vai murchando.
Desculpe, senhora, se não a ouço. Estou surda de tristeza e desamparo, nem posso ir despedir-me, que bem longe de mim morreu.
Vou rezar por ele e por mim e por todos que perderam alguém para sempre.
Não somos mais as mesmas, de hoje em diante sou um pouco menos, aqui está seu açúcar, senhora, adoce seu café.

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