segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dor de cabeça

Um dia frio e ventoso, que frente fria!
Estou pensando em um balanço feito de madeira e corda, os nós bem firmes embaixo do retângulo de madeira. Preso em um galho de mangueira, ouve-se o ranger do galho, a corda esfolando a árvore, a criança balançando lenta e pensativa, com o rostinho apoiado na mão que segura a corda.
Dentro de casa os sons cativos da rotina, uma torneira aberta, alguém batendo em bifes na cozinha, outra criança chora, um copo de vidro se quebra.
-"Quer biscoito de polvilho?" Ela diz que não com a cabecinha.
-"Vem pra dentro, está ventando". Ela diz que não com a cabecinha e faz um beicinho.
-"Ah, não vai chorar agora, papai já está chegando para almoçar, hoje tem batatas fritas!"
Por fim desce do balanço e vai até a janela da sala, espera avistar o carro do pai.
Mas hoje ele não vem. Está ligando para casa para dizer que vai demorar, que precisa atender mais três pacientes.
Paciência.
A mamãe, a filha e a nenê vão almoçar juntas, mas sozinhas.
A menininha pega uma batata frita, molha no catchup e fica chupando o molho. Está tristinha, ninguém sabe o que ela tem. Talvez tenha febre ou dor de cabeça...
Afinal, quando temos consciência de dores de cabeça? Até quando a dor de cabeça é vaga e absorvente como uma tristeza sem sentido? Eu também não sei. Não é com um esfolado, nem como dor de barriga, nem dor de vacina. É dor de pensar, uma dor abstrata bem concreta.
Enrolada em umas cobertas, olhando o tempo lá fora, não sei se a dor é insolação ou solidão.
Mas tem um pé na saudade.

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