sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Direção

Nunca gostei de dirigir. Carro pelo menos, não.
Aprendi com instrutor, nas ruas do Sumaré, sem grandes alardes, algo necessário, mas enjoado. Fiz exame médico, psicotécnico e deixei pra lá. Quase um ano depois telefonaram avisando que se eu não fizesse a prova prática ainda naquele mês, teria que começar tudo de novo. Exame médico, psicotécnico...
Marquei a prova e fui. Nada aconteceu de extraordinário. Fiz o que o professor pediu e passei. Recebi a carteira e pronto, podia dirigir em São Paulo.
Ganhei um fusquinha amarelo, usado, mas bem ajeitadinho, do Miguel.
Ele ficou no estacionamento ao lado do nosso prédio, por quase um ano. Dirigi 500 Km com ele.
A lembrança me vem agudamente, do cheiro do interior do carro, dos dias frios, da chuva, do medo.
Tinha a impressão de que ali dentro do carro, se reuniam muitas pessoas que tagarelavam, discutiam. Era o caos. Compreendi que tinha medo do interior.
Resolvi aprender a pilotar motocicleta.
Havia um curso excelente da Honda, ali perto do Detran.
Aprendi a dirigir moto grande, (uma CB400), fiz o curso direitinho - tinha uma parte teórica em que eram mostrados acidentes e situações de risco para assustar mesmo os mais afoitos.
Então fui fazer a prova prática. Tomei bomba. Queimei uma faixa na hora de fazer o circuito em oito... Mas assim que pude, fui fazer a prova outra vez. Tomei bomba de novo, desta vez porque achei que tivesse queimado a faixa, mas não tinha... Da terceira vez, eu consegui.
Então ganhei do Miguel uma XLX- 250 cilindradas, uma graça, uma moto de trilha, alta e elegante. Tinha que dar partida no pedal, não tinha moleza não.
Aí sim, de capacete, luva, botas e muitas vezes capa de chuva, lá ia eu onde tivesse que ir.
Levei uns sustos, passei por momentos ruins no trânsito, mas não caí, nunca machuquei. Sentia uma segurança que não tinha conhecido ao dirigir meu fusquinha. Foi assim, pilotando a moto que conheci a cidade.
Perdi o medo de dirigir carro e fazia o trajeto que precisasse, sem prazer, mas também sem traumas. O prazer mesmo era com a moto.
Depois tive a Helena, passei por uma grande cirurgia e precisei rever minhas prioridades.
Vendi a moto com pesar e comecei a carregar minha pequena para a pediatra, para a escolinha, para o teatro nos fins de semana e por causa dela, fui desenvolvendo uma coragem que não achava que tivesse.
E agora, em uma época em que ela precisa aprender a dirigir, os primos estão ganhando seus carros e autonomia, fico torcendo por eles. Afinal, São Paulo está 20 anos mais entulhada que na minha época, todas as cidades estão mais perigosas.
Espero que toda essa geração tão tecnológica possa experimentar o prazer de ir e vir no banco do motorista, dirigindo de fato.

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