sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cabo Cunha

Houve um tempo em que eu colecionava sonhos. A princípio por questões terapêuticas, depois por hábito, depois de birra e depois porque não conseguia parar de lembrar e anotar. Estou revivendo isso porque em uma viagem que fiz a Salvador, faz mais de 20 anos, um gatuno oportunista entrou em meu quarto do hotel 5 estrelas, como se fosse meu acompanhante e levou uma máquina fotográfica, uma bolsa com várias roupas, uma sacola cheia de patuás e meu Deus, meu gravador de sonhos. Quase enlouqueci de vez. Onde estariam meus filhinhos sonhos recém nascidos?
O hotel passou a me tratar como se eu fosse uma princesa, com presentes e cortesias.
No dia seguinte escalaram o cabo Cunha, um baiano ajeitado e cheiroso que ficou circulando comigo do hotel para a delegacia porque haviam encontrado pertences de várias pessoas que haviam sido roubadas da mesma forma. Cabo Cunha me levou para ver quem era o assaltante quando conseguiram prendê-lo. O último objeto que consegui resgatar foi o gravador. Senti minha vida fluir de novo, recuperava meu inconsciente.
Voltarei a Salvador no mês que vem. Desta vez não levarei cadernos nem gravador de sonhos até mesmo porque perdi o hábito de recordá-los.
Levarei uma vontade muito grande de me acertar com a cidade que dizem ser hospitaleira, alegre e linda. Tomara que eu seja recebida de braços bem abertos.
E agora fiquei aqui pensando...qual será atualmente a patente do então cabo Cunha?

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