sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Minueto

A madeira velha da escada em espiral, rangia sob os passos rápidos e tagarelas das meninas do colégio. Era um grupo homogêno; quase todas dobravam duas vezes o cós das saias pregueadas do uniforme para deixar a mostra mais três dedos de coxas saudáveis. O cabelo era solto ou preso em um rabo de cavalo, mas todas usavam franjas.
No patamar da escada, uma porta se abria para o grande anfiteatro, àquela hora, na penumbra. Algumas abriam as cortinas depois de colocarem as mochilas amontoadas sobre a mesa de fórmica branca. Outras tiravam logo os sapatos e meinhas e subiam ao palco por uma das escadas laterais.
Era dia de ensaio.
O texto da peça era uma adaptação de Romeu e Julieta de uma revista em quadrinhos que encontraram na banca de jornal.
Ali havia dança, havia romance e brigas de rua e também havia beijos.
Em um colégio de meninas como seria possível representar este clássico diante dos pais e da Madre Superiora?
Nem pensaram nisso.
Lutas? Usariam as espadas de plástico dos irmãos.
Beijos? Simulariam beijos na hora, nem era preciso ensaiar.
Gostavam de ensaiar o baile no castelo dos Capuleto porque o minueto era uma dança graciosa e divertida.
A "Julieta" era muito branca e recatada e em casa, seus cabelos pesados e pretos eram escovados 100 vezes todas as noites. Ali também ela representava...
Pena que os beijos entre meninas ainda não eram permitidos.

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