O motorista ligara o limpador de para- brisas na maior velocidade.
(Preciso fazer as unhas) pensou, enquanto dobrava a barra molhada do jeans.
Dentro do coletivo aquecido, avaliava a mudança de sua vida naqueles meses.
Antes não saía e agora quase todos os dias atravessava a cidade para estar na loja.
Acabou cochilando e em uma freada barulhenta abriu os olhos e viu um dia nublado mas claríssimo pela reflexão da luz nas nuvens.
(Dias nublados assim deixam o coração inquieto; nossa, que nariz grande e cheio de cravos tem aquele homem; será que já passamos pelo Pão de Açúcar.)
Ficou prestando atenção para tentar identificar alguma coisa, mas tudo parecia diferente.
O ônibus já estivera lotado e aos poucos os passageiros iam diminuindo.
Ficou apreensiva quando a última passageira desceu; resolveu perguntar ao motorista quanto faltava para chegar à rua Bosque.
O motorista disse que estava quase chegando ao ponto final, a garagem; e que o próximo ônibus deste itinerário só sairia daí a uma hora. (Como faço para chegar na Barra Funda.) O motorista nem ouviu, tinha descido do onibus esfregando as mãos, queria um café.
(Como pude perder o ponto. E agora como faço para chegar.)
Contou o dinheiro, pensou em um táxi, mas não fazia a menor idéia de valor da corrida.
(Estou perdida.)
Foi caminhando até um ponto e ficou por ali, lendo os letreiros dos ônibus, desanimada na estiagem úmida.
Então entrou no primeiro coletivo que seguia para o Bom Retiro.
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