sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Uns balões

A manhã já tinha começado e eu estava cochilando, preguiçosa, o restinho do meu sono.
O telefone tocou ao meu lado, bati a mão até localizá-lo no criado-mudo e atendi de olhos fechados:
-Alô?
Era o Miguel. Ele tinha saído de casa para o hospital fazia menos de dez minutos, mas parecia muito animado. Disse:
- Sabe aquela praça em frente ao condomínio Barra Bali ?
- Sim?
Estão inflando dois balões enormes, um deles já quase pronto e o outro bem vermelho estão desdobrando ainda.
- Ah, tá...
- Você não quer ir lá ver? Está cheio de gente e eles são tão bonitos...
O que eu queria mesmo era dormir por mais uma horinha... Mas ele estava tão animado...
Então levantei, me vesti e fui até a praça. Vasculhei cada metro, perguntei aos porteiros... Nada, ninguém sabia coisa alguma.
Fiz uma volta completa, olhei para o céu - quem sabe já estavam flutuando - nada, só o azul, o azul tão definitivo do céu do Rio.
Voltei para casa e fui cuidar da vida; e a essa altura já estava bem desperta.
Será que sonhei? Será que realmente houve algum balão?
Seja lá como for, sonho ou estímulo,  o fato me fez sair do marasmo.
Porque depois de caminhar sob o sol e o céu azul gritante, todas as minhas moléculas se agitaram.
Um pouco mais de energia e estaria pronta para o Rock in Rio!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aprendendo a viver

Quebrei uma caneca que ganhei  no dia das mães faz muitos anos. Escorregou da minha mão e espatifou-se.
Um caco feriu meu pé, um outro foi para debaixo do fogão, muitos bem pequenininhos se espalharam e se esconderam. E um pó branco, uma espécie de pó branco  misturado ao restinho de chocolate quente que eu bebia com tanto prazer renderam-se macerados sobre o piso.
Desolada tentava encontrar no desenho espraiado do chocolate alguma explicação para ter sido assim tão descuidada.
Depois tratei de limpar a sujeira, com muito capricho para não esquecer nem um caquinho, já que os objetos devem ter lá seu céu também, onde ficam para sempre reconstruídos e repletos de uma bebida quente,  reconfortante.
Peguei uma outra caneca da minha adorável coleção, preparei um chocolate ainda mais espesso e cremoso que o anterior e vim beber aqui na sala, lendo um livro, ouvindo música, continuando a viver.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Colecionador

São os excessos! São eles que  nos fazem descontinuar.
Ser campeão de volei ou um triatleta competitivo significa ter que lidar com a queda gradual da performance.  Imagino que descer um degrau da escada do sucesso - porque ir descendo é a tendência natural depois de atingir o topo ou o seu máximo - sempre ocorre por um evento específico: Uma torção, uma perda, um resfriado, uma tristeza.
Na retomada não se retoma integralmente.
E assim devagarinho, um pequeno passo de cada vez vamos cedendo e cedendo.
Depois restam os troféus e as medalhas e o atleta envelhecido que se lembra cada vez mais vivamente do tempo em que era especial.
Cá entre nós, o que fazem com essa tralha depois que tudo acabou?
Onde estarão guardados os objetos que não traçam nossa história mas a de um ascendente remoto?
Se não for um colecionador, estarão perdidas nas entranhas de um tempo que não voltará.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

Certa vez houve um banco de areia na beira da praia que apareceu da noite para o dia e se instalou como um  totem.
Quem via da cidade não se importava porque estava longe e parecia natural.
As ondas rodeavam o totem, porque para elas era mais fácil contornar que vencer.
Dois meninos combinaram:
-  Vamos devolver a areia para o oceano e fazer um braço de mar onde agora está o monte.
E começaram. A princípio com  canequinhas, depois mudaram para baldes.
A meio do caminho entre devolver a areia  e trazer a água, eles se encontravam e contemplavam um o trabalho do outro. Por muitos anos trabalharam nisso.
Outras pessoas vieram e viram e não viram sentido e se foram.
Porque o sentido só existe para quem está envolvido no projeto.
Então a vida que tem tanta pressa gritou para que largassem tudo e pegassem o trem.

Certa vez houve um braço de mar na beira da praia, que se instalou como um rabisco na paisagem.
Outros meninos combinaram:
- Vamos devolver este braço de mar para o oceano...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Estação

Mudamos de estação, você percebeu?
Tudo continua igual, será que mudamos mesmo?
Ontem a noite houve  um vento forte que derrubou telhas e muitas flores.
Mas as flores das  buganvílias são ainda  belas caídas cobrindo a grama.
Anime-se, vem chegando a primavera, disseram-me alguns.
Continuo invernal... Estou descompassada.
Mas tenho a impressão de que as flores que precisam cair de mim serão podadas amanhã pelo jardineiro.
Depois vou brotar inteiramente pela força da nova estação.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A saga canina

Depois da longa saga-  23 dias com colar elizabetano, finalmente a Doutora Andréa, oftalmologista veterinária do Haus anunciou: Ele está de alta!
Que alívio, foi muito difícil este tempo todo de expectativa.
Mas não deixei cair a peteca, por mais que desejasse tirar, mantive o abajur bem firme com uma coleira forte e ele se virou coitadinho.
Agora até parece que se sente um pouco só sem aquele parangolé.
De qualquer forma,  voltaremos a boa e velha rotina.
Novidades? Sim:
Seus olhos passaram de olhos de pires para olhos de prato de sobremesa. Os cílios são aparentes e ele não chora mais.
Também iniciamos a comidinha caseira sob a supervisão da doutora Paloma, nutricionista veterinária.
Ele amou a nova dieta e já recebi muitas dicas de como lidar com os pequenos percalços. Segundo ela, ele não está tão gordo assim! Ele é grandão e musculoso. Uns 3 quilos e estará ótimo.
Miguel ficou muito feliz! Tá vendo? Que gordo que nada!!
Todos nós traçamos caminhos muitas vezes desconhecidos, indefinidos, esperando fazer o melhor, mas nem sempre dá certo. Que direção tomar nesta ou naquela encruzilhada?
Desta vez deu tudo muito certo e estou começando a relaxar.
Resta caprichar no que for possível e curtir os melhores momentos com meu amigão.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Com outros olhos

Tenho olhos azuis, basta checar meu DNA, os genes estão lá.
Mas é assim: durante o dia azul.
À noite castanhos bem escuros.
Se tem brilho ou não  depende de fatores externos. Qual é o tamanho da lua? É lua Nova? Minguante?
Os meus olhos azuis se cansam mais depressa. Querem olhar tudo com clareza, determinação, mas são tão sensíveis que às vezes choram...
Os escuros, não. São firmes, devolvem o olhar, nada os abate.
Portanto, camarada, se eu estiver com aqueles de cor azul, não seja rude.
Tenha delicadeza até para me encarar.
Se for possível, não me enfrente, posso reagir e ninguém vai gostar. Tenha paciência.
Assim que passar o dia e ensombrecer,quando vier a penumbra,  pode ser que eu o veja com outros olhos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma agulha no palheiro

Fui mexer em um palheiro atrás de uma agulha.
Estava lá fazia tanto tempo, amalgamada aos pós do tempo e às oxidações da vida.
Deveria ter deixado estar.
Era uma agulha com história, estivera em minhas mãos nos momentos mais críticos, era sempre oportuna e eu de saudade fui mexer no palheiro. A principio devagar tirava as palhas uma a uma,  examinava dos dois lados e entre as fibras para depois colocá-las em um monte ao lado e criar um novo palheiro. Depois de muito trabalho, e havia tanto ainda, comecei a trabalhar mais depressa. Valorizava mais o que tinha ficado, do que o que eu estava tirando.
Foi uma peleja.
E assim, depois de muitos anos cheguei ao fim da procura. Em nenhum momento a agulha brilhou entre minhas mãos. Vasculhei o pó que havia restado debaixo de tudo. Peguei um imã, uma lanterna, uma lupa, abusei da luz do sol. Nada...
Acabei concluindo que perdera a objetividade durante a busca. Mas tinha que encontrar.
Então recomecei.
 E o palheiro original está sendo reconstruído.
 Quem sabe se desta vez encontro minha agulha?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um jeito de ser!

Uma de minhas bisavós, a Vó Marcela, era muito rústica e semi analfabeta, mas aprendeu com o marido, um português muito bem informado, inúmeros provérbios que ela decorava e usava com sabedoria. Segundo minha mãe ela era muito exigente e ao mesmo tempo doce a ponto de na noite anterior ao seu casamento ajeitar as colchas para que a neta não se resfriasse. Mamãe conta esta história com muita emoção.
Mas o que eu queria falar mesmo é sobre a forma de cada um levar sua vida.
Eu, por exemplo, sempre fui de poucos amigos e passo parte do meu dia lembrando fatos que aconteceram ou não, quando era mais nova. E o meu dia passa por mim intrigado por eu estar perdendo tempo com o que já passou em vez de aproveitá-lo hoje.
Mamãe, na terceira idade, não faz por menos: Onde quer que a chamem lá vai ela toda feliz, pronta em cinco minutos para a próxima jornada. Dentro de poucos dias estará conhecendo a Escócia. E eu só de pensar na viagem, morro de preguiça. Quero ver as fotos e ouvir as histórias, mas prefiro ficar bem tranquila aqui no meu paraíso. 
Como a Vó Marcela costumava dizer:  
- O que é de gosto, é  regalo da vida.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Jiló

O que há com o jiló?
Porque comer o  jiló tão amargo se há muitos outros frutos muito mais agradáveis e versáteis?
A população se divide  entre os que gostam e os que não os comem.
Bem alguns tentam tirar o amargo do fruto, e então fica ótimo... mas isso faz algum sentido?
Vamos todos comer chuchu!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Divagar

Quando é que começamos a sentir saudades do que fomos? Qual é o gatilho?
Esqueci tanta gente e agora tantos vieram a tona, cutucar meus instintos e amolecer meu coração.
Não me lembro de sentir saudades dos amigos antes dos 30 anos. Sentia falta do namorado que ia e vinha; e sofria muito pela separação: eram picos de prazer e desespero.
Agora não. Faz metade da minha vida que estou com meu amor, portanto em segurança, porém sinto saudade de tudo mais. Da filha tão amada, dos irmãos queridos, dos pais distantes - de uma forma ou de outra,  dos colegas das faculdades, dos animais que tive, da vidinha simples do interior, das emoções da cidade grande...
É um sentimento maduro, mais relacionado ao amor que à paixão que me movia antes.
Com certeza tem a ver com os meios de caminho. Se antes tudo se movia rapidamente e o tempo era curto, agora pode-se pausar o filme e divagar sobre o antes e o agora.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

International Space Station

O Fausto, meu irmão e a Maria Lúcia tem dois filhos incríveis. Estão a meio caminho entre a infância e a adolescência mas sempre estiveram em cima dos cascos! São muito bem informados, falam um português corretíssimo e tem argumentos e pontos de vista mais centrados que de muitos adultos que conheço. 
Bem, da última vez que estive em Uberaba, fomos convidados para ir fazer um lanche na casa deles. Impreterivelmente as quinze para as oito!  Lá estávamos, pontualmente: Renata, Ian, mamãe, a Nanda e eu. 
Havia sobre a mesa na varanda, velas de citronela, uma planta belíssima  e em minutos chegou para nosso deleite uma berinjela assada com temperos únicos, uma delícia mesmo. Comíamos com pão árabe e bebíamos uma cerveja especial; um momento encantador da viagem.
Mas ainda não era tudo. As 8 horas, fomos todos convidados para ver passar pelo céu (um pouco nublado para tristeza de nossos anfitriões), a ISS (International Space Station) que iria atravessar o firmamento, bem acima de nós.
Então, no escuro, no pátio em frente à piscina, somente com as velas de citronela acesas na varanda, ficamos todos observando, à espera da passagem ilustre. Foi um momento tão mágico que queria repartir com o mundo todo, lembrava de todas as pessoas que adorariam estar ali, naquele momento tão íntimo e ao mesmo tempo tão universal.
E aos gritos comemorávamos sempre que ela aparecia entre as nuvens: ah lááááá´! 
E de repente: Ali! Opa, desculpem - era só uma estrela...
Foi lindo, coroou minha viagem, nunca mais vou esquecer.
Pedi ao Fausto que me avisasse sempre que a ISS fosse passar pelos céus cariocas para eu poder compartilhar com o Miguel que certamente adoraria.
Ontem, ele ligou: Como está o céu aí hoje?
E eu desolada disse: Nublado, tempo fechado e chuvoso, nuvens que se tocam com as mãos...que tristeza...
Mas mais triste mesmo foi acordar hoje de manhã e ver, como em noventa por cento dos dias aqui no Rio, um céu azul, de Brigadeiro!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nublado

Hoje acordei triste.  Todas aquelas imagens do 11 de setembro de ontem ficaram povoando meus sonhos.
O tempo também não ajuda, está frio e muito nublado. Costumo chamar dias assim de dia-enxaqueca, porque há uma claridade difusa que me faz muito mal, é um gatilho para minhas dores.
Temos que reagir sempre, ir contra a corrente se necessário ou aproveitar a correnteza a favor dos nossos objetivos. A superação, seja da dor ou da falta ou mesmo de uma doença , clareia os sentidos. Somos então mais fortes, encontramos motivo para existir e continuar.
Mesmo que continuar signifique escrever outra vez sobre o que já foi escrito.
Poque mais cedo ou mais tarde é preciso reforçar as estruturas de existir.
É isso que estou fazendo hoje.

domingo, 11 de setembro de 2011

Dez vezes o onze

11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.
11 de setembro.

Há dez anos, todos os anos.
Dói lembrar e ver. As mesmas imagens, os mesmos gritos e os mesmos corpos. Algumas imagens novas. Poucas. Mas tudo parece novo. E sempre vai parecer.
Até o final dos tempos, ou da mídia - o que vier primeiro - teremos o 11 de setembro.
Tomara que não precisemos mudar de catástrofe.
Porque mesmo sem querer, pouco a pouco vamos nos acostumar.
E talvez doa menos.

sábado, 10 de setembro de 2011

Médicos veterinários

Ontem, dia do médico veterinário, estive às voltas com tantos e nem me lembrei de cumprimentá-los. Frenética e assustada, com dúvidas ainda se deveria fazer meu pobre cão passar por uma experência muito infeliz mas restauradora, só o Miguel me acalmava, sempre tão presente e solidário.Depois da cirurgia, pela primeira vez em toda a vida do meu cachorro pude ver seus cílios, não é que estavam mesmo para dentro?
E foi assim, em uma clínica veterinária - Vet Service - que passei boa parte da tarde,torcendo pelo meu animal.
A não ser pelo estresse que um flanelinha causou ao insultar o cachorrão, que eu tentava conter com focinheira e mordaça, no porta-malas da camionete, para a aplicação do sedativo, correu tudo bem.
O flanelinha abobado, dançava na frente do cachorro e com ironia dizia: " é o Mike Tyson" . E eu aos gritos dizia: Saia daí que ele é bravo!   (Se acontecesse algum desastre a culpa seria minha, claro...)
Agora é acompanhar a recuperação e agradecer a todos que fizeram parte dessa pequena saga do melhor amigo doente.
Parabéns, veterinários! E muito obrigada!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Coordenação motora

-Haus?!
Ele vem correndo.
-Senta!
Ele senta prontamente.
Na mão esquerda seguro uma uva (ele adora!)
Na mão direita seguro o colírio, já pronto para ser  instilado.
-Olha!
Ele olha para a uva e espera.
Quando aproximo o colírio para deixar a gota cair no olho ele fecha - só o  esquerdo, o doente.
Quando finalmente consigo acertar a gota no lugar certo, digo ok e jogo a uva para ele.
Ele come com prazer. Depois de um minuto, tudo outra vez! E assim por diante por cinco minutos.
E toda a sequencia de novo mais duas vezes durante cada dia.
As vezes, acostumado a pegar o petisco no ar, ele engole a gota! E eu quase que pingo a uva!
Céus!
E eu que achava que era mais fácil ter um cachorro do que um filho?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Hideandseek (Patrícia Rati): Reticências

Hideandseek (Patrícia Rati): Reticências

Reticências

As vezes fico cismando, até quando, até quando?
Minha vida é cheia de reticências e fico aqui calada e quieta enquanto aguardo a próxima palavra.
Não ousei ainda olhar lá fora depois que amanheceu.
Porque o último clarão da lua  alertou-me sobre a inevitabilidade de ser  um pouco menos a cada vez.
Já senti meus ossos e músculos, senti completamente a minha pele, onde estarei faltando uma parte? Interiormente é claro, o impalpável, o intocável.
Algumas ideias vagas que se foram para sempre.
Em um fogareiro orgânico, mantido baixo, sinto o cozimento das falhas, estas sim, moldadas, cristalizadas.
Quem sabe no próximo amanhecer estarão faltando uma unha e alguns fios de cabelo?
Se são visíveis, posso até calcular: Hoje se foram umas 20 gramas de mim. Bem, não me farão falta.
É assim que continuo, administrando as perdas.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um dia

Pão francês com manteiga e café puro.
Uma hora de corridinha.
Uma banana com canela.
Uma hora na fila do banco.
Suco de abacaxi com hortelã sem açúcar.
Uma tarde inteira para pensar em:
Helena - que voltou em paz pra São Paulo e já entrou no ritmo da cidade;
Haus - que ficou inconsolável no Rio, de colar elizabetano, colírios de horário  e blefaroespasmos.
E...todo o resto da vida para pensar em chocolate, a paixão que não cede, nem que eu consuma todo o "galã" que houver.
Nos quadris, o chocolate aparece arredondado e meio... enrugadinho.
Que pena...
Muitas paixões emagrecem...
Esta não. Definitivamente.
E agora tenho que correr atrás do prejuízo...

sábado, 3 de setembro de 2011

Um cachorro infeliz

Nada pode torturar mais um animal que o colar elizabetano.
Alguns dirão que o dono sofre mais que o bicho, que se adapta rapidamente e tira o incômodo de letra.
Bom, não sei se o cão dos outros administra bem o colar, mas o pobre Haus está muito infeliz.
A maior parte do tempo está tenso com as duas patas da frente fincadas no chão e olha desconsolado para quem passar por perto: - tira isso de mim, por favor, tira isso de mim....
Somente quando está exausto adormece e eu torço para  ele  dormir bastante assim o tempo passa mais depressa.
Porque terá que ficar com o colar por três semanas inteirinhas (ainda bem que ele não sabe, senão tentaria se afogar na piscina).
Pondero que  se ele passou tanto tempo com os cílios a raspar suas córneas dia a dia, será melhor depois do tratamento e da cirurgia.
E estamos conversados, não vou desistir.
Quem vê sofre junto, o caseiro quer morrer de pena e por mais que eu explique, sou a tirana da vez.
Sinto muito, sinto mesmo.
Estou caprichando nas aplicações dos remédios, sessões de carinho e ajudando no que posso para ele sofrer menos.
Já dizia minha mãe quando eu era adolescente: cada um tem que cuidar de suas próprias doenças.
Minha doença atual é psiquica: Meu cachorro está vestido de freira e não está feliz.