Furtaram meu anel, joiazinha de beleza singela, herdada de minha avó. Uma pérola levemente rosada, em uma aliança de ouro português; que pena. Ainda tenho o hábito de buscá-la no anelar direito com o polegar, se estou nervosa ou preocupada.
Havia deixado sobre a pia, no quarto do hotel, porque estaria visitando o centro da cidade onde o roubo é comum. Quando voltei ao quarto e dei pela falta, acionei camareiras, gerentes, tudo.
Ninguém tinha entrado no quarto, ninguém.
Uma tênue marca de pele mais clara no dedo confirma que o que eu tinha ali era querido e usado constantemente. Mas, nunca mais vou vê-lo, nunca mais vou tê-lo. É de partir o coração.
Roubaram-me certa vez uma corrente. Dessas muito finas de se pendurar o santo, ou os filhos.
Saí distraída do meu prédio e nem vi quando o rapaz veio ao meu encontro, bateu a mão no meu peito e levou minhas lembranças. Apesar de triste, fiquei mesmo muito assustada e em pânico, chorei como havia anos não chorava.
Uns tempos depois me aconteceu ser vítima de um roubo qualificado. Os dois rapazes fizeram-me um cerco na porta do carro e um deles, conversando baixinho comigo, com uma expressão inteligente e amigável, me mostrou o trabuco na cintura. Não gosto mesmo de armas, mas aquela teve o efeito de uma convulsão. Perdi as pernas, acho que até babei de pavor. Saí da frente deles, cada um entrou por uma porta e lá se foi minha bolsa. Só, porque o carro, não conseguiram levar, talvez por ser automático; deixaram lá todo aberto e fugiram na Pajero em que tinham chegado.
A sensação de vazio é quase irreparável quando lhe roubam a bolsa. Para nós, mulheres, bolsa é uma espécie de fetiche, um missal; um objeto de aglomeração da identidade.
Meus documentos, minhas fotos, minha caderneta de anotações e a de endereços, minhas chaves, nossa, o quanto de mim havia ali?
Tinha me conformado com a via sacra necessária para fazer a segunda via dos documentos, cancelar cartões e tirar nova cópia das chaves.
Depois de uns três dias, recebi uma ligação de uma amiga querida, com quem não falava há meses.
Ela disse-me que recebera um telefonema curioso: Disseram-lhe que os meus documentos tinham sido encontrados e estavam a minha disposição na igreja evangélica de um bairro da periferia. Conseguiram o telefone dela na minha agenda de endereços.
Não podia acreditar! Mas eu iria até lá? Nem morta!
Chamei um táxi, dei a ele o endereço e pedi que fosse buscar os documentos para mim, que eu o pagaria na volta por todo o processo. Ele topou, concordou comigo que eu não deveria mesmo ir e me fez esse grande e caro favor. Voltou trazendo a bolsa, um pouco enxovalhada mas quando olhei dentro tive uma grata surpresa. O dinheiro, os cartões, o celular e outras quinquilharias tinham desaparecido, mas meus documentos estavam muito bem arrumados dentro da carteira, coisa que jamais consegui manter.
Quando bate um desespero de não encontrar mais nada lá dentro, crio coragem e esvazio no tapete todo o conteúdo para dar um jeito e jogar fora pequenos papéis e outras bobagens. Mas assim que arrumo a bolsa e saio de casa, algo acontece lá dentro e as tralhas em conluio se desarranjam.
Confesso que senti certa vergonha do bandido. Mas fiquei muito feliz de reaver os documentos.
Bom, não gosto muito de pensar no assunto, mas do jeito que vai, o próximo acontecimento dessa natureza é um roubo qualificado seguido de latrocínio. Eu, hein?